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Já não consigo mais me surpreender com o fato de um sujeito completamente desprovido de talento como esse tal de “Wesley Safadão” ter gravado um DVD ao vivo em Brasília perante 40 mil pessoas. Também não me espanto ao ver um sujeito completamente despreparado intelectualmente como esse tal de “Pablo” exibir a sua “sofrência” em programas de TV. Hoje em dia é bastante óbvio verificar o quanto a música de péssima qualidade - em TODOS os sentidos – conseguiu invadir todos os espaços midiáticos que você imaginar, a ponto de presenciarmos a todo instante o quanto a riquíssima e legítima cultura regional do país está completamente diluída. Já escrevi artigos anteriores em que abordei o assunto - que você pode ler aqui e aqui - e continuo a não compactuar com isto.

Por conta desta situação, é desesperador sacar que pelo menos duas gerações de brasileiros estão cercadas por todos os lados por estilos em que NADA – repito: NADA! – é aproveitável. Do tal “funk” ao “pagode xexelento mela cueca e isca de periguete”, do sertanejo “universitário dor de corno” ao tal “forró eletrônico”, o que se vê e ouve é uma tsunami de lixo musical inédito na história da música brasileira.

Voltando ao início de texto, vamos pegar o exemplo deste tipo de “forró eletrônico” que é uma verdadeira ofensa para quem curtiu e viveu a época em que este gênero tinha nomes tão incríveis como Jackson do Pandeiro, Marinês, Trio Nordestino, Dominguinhos e, claro, Luiz Gonzaga, entre tantos outros de igual valor. Para a verdadeira manada de zumbis em que se transformou o Brasil, Wesley Safadão, Pablo, Aviões do Forró e outros representam componentes de um imenso caldeirão, em que aberrações musicais se misturam a esquemas “esquisitos” de divulgação e agendamento de shows, com a formação de cartéis de empresariamento que levam a um monopólio prontamente aceito por rádios e TVs espalhados pelo Brasil. Tudo exatamente como ocorre no tal “funk” e no “sertanejo universitário” e ocorria no auge do “pagode” e da “axé music” nos anos 90. Os tempos são outros, mas as táticas são as mesmas…

Foi justamente na década de 90 que o tal “forró eletrônico” surgiu, de certa forma como uma resposta justamente ao então financeiramente rentável universo da axé music. Bastava botar um único sujeito cantando e tocando um teclado de modo canhestro e cercado por duas bailarinas gostosas – como esquecer de Frank Aguiar e seus imitadores? – para se anunciar um “show de forró”. Esquema barato que rendia lucros enormes.

Depois a coisa foi ficando mais gananciosa, com grupos sendo formados com o mesmo esquema – cantor medíocre, tecladista “qualquer nota” tocando instrumento com tudo programado e pré-gravado, mais bailarinas gostosas – e rios de dinheiro surgindo de uma extensa agenda de shows baratos e esquemas de divulgação “esquisitos”. Foi a época em que aberrações musicais como Mastruz com Leite, Calcinha Preta e Aviões do Forró chegaram às rádios e TVs. Tudo em um esquema muito bem montado em termos financeiros, que continua a valer até os dias de hoje, com milhares de grupos pavorosos e bailarinas cada vez mais ousadas em suas safadezas. Com a conivência de um público a cada dia mais retardado, é claro…

Minhas críticas são pertinentes? Aí é com você. Só não leia estas palavras como sendo um pensamento moralista de um velho ranheta. Tenho inúmeras qualidades terríveis, menos esta. Você pode dizer que sou um “preconceituoso saudosista elitista” ou algo do gênero. Dane-se. Enquanto eu tiver voz e a capacidade de digitar algumas letras, vou continuar me recusando a abaixar a cabeça para um futuro popularesco do qual jamais serei cúmplice. Se você pensa o contrário e deseja que seus filhos vivam em um ambiente em que ter um mínimo de cultura é uma ofensa, o problema é todo seu.

Pense nisto.

Regis Tadeu
Regis Tadeu é crítico musical, jurado do Programa Raul Gil, colunista/produtor/apresentador do portal do Yahoo, produtor/apresentador dos programas Rock Brazuca e Agente 93 na Rádio USP FM e foi Diretor de Redação/Editor das revistas Cover Guitarra, Cover Baixo e Batera.

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